
IGREJA PRESBITERIANA
DO BRASIL Anchieta-Espirito Santo

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Para Refletir
Abra os olhos do meu coração, Senhor!
(Na imagem ao lado vemos a pintura de Akiane. Nesta pintura, A aldeia foi invadida e todas as pessoas capturadas ou mortas, exceto duas pequenas crianças, o menino que não consegue ver e a menina que não pode andar. Não poderiam ter escapado sem a ajuda um do outro. O milagre de sua fuga é a sua visão e determinação. A menina que não anda estava guiando o menino cego através de campos largos, florestas, túneis, escadas e portas, enquanto o menino estava carregando sua visão. (Barefoot, 24" x 30", Prints - Akiane Kramarik /Age 16 (2010))
A Igreja segue caminhando por Ronaldo Lidório
Há, sem dúvida, abundantes motivos de preocupação com a Igreja em nossos dias. Em solo brasileiro o mercantilismo da fé invadiu púlpitos, livros e corações. A prosperidade material, em lugar da santidade e serviço cristão, se tornou o sonho de vida vendido nas prédicas diárias. Os títulos hierárquicos da fé são criados na busca por autoridade e destaque de egos enquanto – talvez seja o pior – a Palavra é manipulada para fins pessoais e, não raramente, ilícitos.
Não discordo das vozes de preocupação ou das lágrimas de angústia por uma Igreja que tem se encantado com as luzes deste mundo, perdeu a simplicidade cristã e, em muitos casos, se conformou com o presente século, aplaudindo-o de pé.
Vejo, porém, que, apesar de vivermos dias maus, há motivos de tremenda alegria e regozijo no Senhor, pois Sua Igreja segue caminhando. E observar o cuidado do Senhor ao preservar o caminhar da Igreja - mesmo ao transitar por ruas esburacadas e esquinas escuras - é terapêutico para a alma e estimulante para a fé.
Nos últimos tempos encantei-me com várias destas pessoas que fazem parte da Igrejacaminhante.Lembro-me daquele pastor assembleiano que encontrei no Rio de Janeiro que, encarecidamente, pedia ajuda para subir o morro do alemão visto que andava de muleta por ter levado um tiro na última vez que o fez. Desejava subir novamente o morro para pregar a Palavra de Deus. Recordo-me com cores vivas também daquele mecânico de Brasília, tomado pela alegria da conversão após trinta anos de sofrimento nas drogas, e agora sem conseguir completar uma só frase sem falar de Jesus. Também o Sr João, leigo e semi-analfabeto, que se embrenhou nas matas amazônicas para pregar a Palavra e evangelizar – sozinho – seis aldeias indígenas, sem preparo, sustento ou reconhecimento, mas por amor ao Cristo vivo. Não poderia me esquecer de nossos teólogos que andam na contra mão das tendências da época e, mesmo debaixo de críticas e risos, não deixam de nos apontar o caminho da Palavra e da fé. E o que mais poderíamos falar dos pastores e líderes com cabeças já embranquecidas que, após uma vida inteira de fidelidade ao Senhor e à sua Igreja, nos inspiram a seguir o mesmo caminho? E aqueles que gastam a vida, economias e forças para dar voz e uma mão amiga aos caídos à beira do caminho? É também formidável perceber que a cada semana, em solo brasileiro, milhões se apinham em templos das mais variadas espécies para praticar a comunhão e, com sede de Deus, buscá-lo enquanto se pode achar.
Dentre as maravilhas de Deus em manter a Sua Igreja viva em meio a um mundo cujas cores são fortes e atraentes, passa pela minha mente três fatos que, apesar de simples, são para mim emblemáticos. Primeiramente, após ter voltado da África para o Brasil e por aqui estar desde 2001, percebo por onde passo a presença de verdadeiras testemunhas do Senhor Jesus. Homens, mulheres, crianças e idosos que não param de falar de Cristo, distribuir panfletos com mensagens bíblicas, realizar encontros nas praças e seguir de casa em casa – pessoas que são impulsionadas a falar de Jesus a partir do que têm experimentado em suas próprias vidas – sincera transformação. Não há um lugar que passo sem uma marca – mesmo que simples, ou as vezes até fora de contexto – da determinação de se falar daquele que fez algo novo, e maravilhoso, em nossas vidas. Jesus está no coração da Igreja e, freqüentemente, também em seus lábios.
Em segundo lugar recebi um pacote de cartinhas de crianças de uma igreja no interior de Minas, da escola dominical. Em várias delas afirmavam estar orando por nós – missionários – para que não nos desviássemos do nosso chamado. Pensei naquela manhã: fazemos parte de um Corpo que possui crianças que oram, escrevem suas orações e, ainda, nos exortam a não nos esquecermos do sentido da nossa vida!
Por fim, o amor à Palavra. Muitos crentes a buscam, retiram horas para estudá-la, ouvi-la e comunicá-la. Em muitos cultos o momento mais sublime é o momento da Palavra. Olhos se concentram, pessoas se ajeitam nos bancos. A Bíblia é segura com interesse enquanto canetas anotam explicações e aplicações em caderninhos ou papéis improvisados. Há algo diferente quando ela éaberta.
Sim, a franca evangelização, crianças que oram e o amor à Palavra não minimizam o quadro agonizante de uma Igreja que precisa de urgente e franca reforma de vida. Mas são alguns, dentre muitos outros, sinais de que esta Igreja segue caminhando, e o fará até o dia final quando seremos chamados - os que dormem e aqueles vivem - para ouvirmos a doce voz do Senhor : servo bom e fiel...
Rev. Francisco Leonardo Schalkwijk, homem de Deus, ao impetrar a bênção ao fim de cada culto, sutilmente adiciona uma frase que nos lembra a diferença entre aqueles que se chamam Igreja e aqueles que o são: Que a graça do nosso Senhor e salvador... seja agora irmãos, com toda a Igreja, que sinceramente ama o Senhor Jesus, agora e para todo o sempre, amém. Para ele há na Igreja aqueles que são de fato Igreja – amam sinceramente a Cristo – e aqueles que freqüentam cultos, reuniões e púlpitos. Escutei a mesma verdade da boca de um indígena crente em Cristo, da etnia Ixkariana do Amazonas quando afirmou que ser cristão é conhecer a Jesus, é amar e viver a Jesus, e também falar de Jesus.
Como muitos outros, fui criado em um lar evangélico e nasci ouvindo vários hinos clássicos cristãos. Um deles dizia: Nas lutas e nas provas a Igreja segue caminhando... e, após as estrofes que falam da luta contra o pecado, o diabo e o mundo, o hino encerra como atestando o inimaginável: a Igreja sempre caminhando.
Nos encontros evangélicos internacionais o Brasil é sempre citado, e quase sempre de forma emblemática e entre frases estereotipadas. Alguns afirmam o grande avivamento que por aqui ocorre, a semelhança de outros poucos países do mundo onde o número de evangélicos cresce tão rapidamente. Outros denunciam as teologias oportunistas e exploratórias que são usadas em nosso meio para falsificar a presença e atuação de Cristo. Não raramente alguém me pergunta, como brasileiro, o que acho. A resposta sai quase de forma automática: somos tudo isto e muito mais. Em meio a este emaranhado de iniciativas, das mais sinceras as mais questionáveis, cria-se um ambiente fluido e confuso, para nós. Porém, devemos nos lembrar que o Senhor não vê como vê o homem. Aquele que separa o joio do trigo conhece a Sua Igreja, a ama e a sustenta.
Proponho um exercício espiritual enquanto caminhamos.
- Preocupar-nos um pouco menos com as loucuras feitas em nome de Cristo e um pouco mais com o nosso próprio coração, para que não venhamos a ser desqualificados.
- Olharmos mais para os desejos do Senhor sabendo que, para isto, precisaremos quase sempre estar na contra mão do mundo.
- Observarmos a beleza da presença transformadora de Cristo em Sua Igreja e tantos motivos de alegria, em tantas vidas verdadeiramente transformadas, e não somente os fartos motivos de agonia e indignação.
- Para cada palavra de crítica à Igreja – autocrítica, se assim quiser – termos uma palavra ou duas de encorajamento, para nosso irmão ao lado e para nosso próprio coração.
- Ouvirmos com zelo e temor os profetas que nos denunciam o erro, bem como os pastores que nos encorajam a caminhar.
- Não perdermos de vista Jesus Cristo, Cordeiro de Deus e vivo entre nós, para que a tristeza advinda da Igreja não nos impeça de experimentar a alegria do Senhor.
Louvado seja o Senhor Jesus Cristo por ser Ele, com Sua autoridade e amor, e não nós, em nossa fraqueza e desamor, que faz com que a Igreja – que a Ele pertence – siga caminhando.
Decisões que transformam vidas
por Ronaldo Lidório
A Bíblia está repleta de iniciativas e decisões que mudaram a vida de pessoas, países e gerações. Algumas foram complexas - como peregrinar por um deserto, empreender uma guerra ou enfrentar um gigante -, outras foram mais simples - como parar ao longo de um caminho para ajudar um homem caído. Foram, porém, decisões transformadoras.
Erramos ao pensar que as decisões são tomadas com base em nossa vontade. Apesar de a vontade exercer um papel fundamental em nossas vidas, frequentemente ela não se mostra forte o suficiente para nos guiar em uma decisão acertada e transformadora. Quantas vezes tivemos sincera vontade de fazer algo notadamente de grande importância e não o fizemos? Decisões são mais frequentemente tomadas com base em nossos princípios - aquilo que determina o que cremos, que resume o nosso sentido de vida e nos impulsiona a fazer o improvável.
Lucas, no capítulo 10, apresenta-nos quatro personagens distintos na estrada entre Jerusalém e Jericó: um necessitado caído à margem da estrada, um sacerdote, um levita e, por fim, um samaritano. É nesta pequena história que encontramos o reflexo da nossa própria humanidade: virtudes a serem celebradas e o natural engano do coração que nos impede de ver o mundo com os olhos do Pai.
O sacerdote e o levita possuíam uma função para a qual foram chamados. Eram homens separados para o serviço do Reino e ocupados com as coisas do Reino. Possuíam um salário e também um público que esperava que cumprissem suas funções. Eram os homens do culto, das celebrações e das cerimônias religiosas. Estavam, porém, tão absortos no cumprimento da própria agenda que perderam de vista o motivo da vocação. Eles se esqueceram de que pessoas são mais importantes que coisas, que uma alma vale mais que o mundo inteiro.
Em uma sociedade ativista, consumista e hedônica, como a nossa, talvez este seja nosso maior desafio: perceber aqueles que estão caídos, enquanto seguimos apressados para o próximo compromisso. Jesus repetidamente ensinou aos seus discípulos que eles deveriam atentar para os órfãos, viúvas, encarcerados, enfermos, famintos, sedentos, excluídos e perdidos. Jesus, com isso, nos ensinou que devemos ter os olhos abertos para os que se encontram nas margens dos caminhos.
Não caía bem a um samaritano ajudar um judeu, opressor do seu povo. Seria ele visto como um entreguista, um colaborador do inimigo, ou mesmo um bajulador de Israel? Ajudar o inimigo não lhe traria aplausos. O certo é que ele estava disposto a sacrificar sua reputação tomando esta decisão transformadora: parar e ajudar a figura mais improvável.
Facilmente nos impressionamos com histórias, biografias e ministérios que não impressionam a Deus. Isso acontece porque nos comovemos com resultados visíveis, mensuráveis e que geram prestígio, bem como com processos ligados às multidões, holofotes e aplausos. Parece-me, porém, que no exemplo de Jesus – e do samaritano – o verdadeiro amor do Pai ocorre com frequência em lugares bem menos frequentados. Lugares onde Jesus encontrou um cego próximo a Jericó, uma mulher samaritana ao lado de um poço e um coletor de imposto odiado pelo próprio povo. Deus vê o coração. Talvez estejamos aplaudindo o sacerdote e o levita, que seguiam rápido, provavelmente para um grande culto, mas Deus se agradou do samaritano que parou.
Identidade é um elemento que contribui tremendamente para tomada de decisões diárias. Para aquele samaritano, sua história lhe dizia que aquele caído era seu inimigo e que este dia era o momento da revanche. Mas, parece-me que ele possuía uma imagem real de si mesmo, que ia além da história contada pelos seus pais, sua sociedade, seu sobrenome e seu contexto. Ele agiu como alguém que crê que sua identidade é definida por Deus. Ele não se viu naquele dia como um oponente, mas como um ajudador. Não enxergou o homem caído como um estranho distante, mas como o seu próximo.
Talvez a sua história lhe diga coisas tristes a seu respeito. Talvez seus pais, amigos, inimigos, os fatos da vida ou seu próprio inconsciente colaborem para construir em você uma autoimagem baixa demais, alta demais, ou simplesmente irreal. A Palavra nos diz, porém, que em Cristo temos uma nova identidade. Somos os amados do Pai, herdeiros com Cristo, vencedores em Deus, sal da terra e luz do mundo, criados para a Sua glória, alvos preferenciais do amor do Eterno. Somos mais que samaritanos opressos, somos filhos de Deus que podem ter os olhos abertos para os caídos ao longo do nosso caminho. A oração a ser repetida a cada dia, neste caso, é justamente esta: Senhor, abra os olhos do meu coração.